Colaboração gera oportunidades, perspectivas e desafios no cenário atual. E, de fato, o mundo não é mais o mesmo e traz uma série de questionamentos que estão impactando cada vez mais a economia tradicional e os modelos de consumo conhecidos. Por que adquirir o livro que pode ser pego emprestado, ou trocado por outra obra que você tem em casa? Vale mais a pena comprar ou alugar um liquidificador, um frigobar, um violão, um casaco de inverno ou até mesmo luvas de boxe, se o seu uso não será duradouro? Isso tudo deve ser levado em consideração, pois já existem plataformas online que proporcionam toda esta gama de possibilidades. Novas criações permitem aos usuários alugarem ou emprestarem objetos e serviços de pessoas físicas, e muitos sites utilizam este conceito de economia colaborativa para conectar pessoas com interesses e necessidades comuns, facilitando o compartilhamento e a troca de bens e atividades, uma atitude totalmente sustentável. “O marketing colaborativo, derivado da economia compartilhada, representa muito bem a mudança de paradigma que vivemos do TER para o SER. São poucos produtos que se valem ainda das mesmas campanhas que incitam o status em ser dono de um grande bem material como um carro ou mansão na praia. É muito mais atrativo oferecer a possibilidade de estar em diversos lugares incríveis ao longo da vida do que se prender a apenas um local ou a apenas uma experiência. Essa é a base conceitual do Airbnb, por exemplo”, lembra Gianfranco Zuculoto, da agência Fullbar Digital (SP).
Muito popular, o Airbnb é um serviço global online que funciona como plataforma que conecta pessoas que gostam de viajar e que descobrem por esse sistema espaços diferenciados para se hospedar com o suporte de anfitriões, que os recebem e ajudam a conhecer os pontos turísticos das localidades. Fundado em 2008, em São Francisco, na Califórnia, foi uma das primeiras experiências efetivas dentro desta proposta compartilhada e colaborativa, nascida como uma alternativa para impulsionar o consumo turístico em tempos de recessão. “A mudança logística proporcionada nas empresas como o Airbnb, apps de taxi e outros se deve ao fato de que estas iniciativas acabam por ter como principal fonte de valor o conteúdo gerado pelo próprio usuário, na forma de resenhas e avaliações de serviço. Dessa forma, estas empresas se tornam grandes players de seus setores sem serem donas dos ativos. Daí surgiu a frase: ‘O Uber é a maior empresa de transportes do mundo sem ser dona de nenhum carro!’”, diz Zuculoto.

Os primeiros negócios baseados na Economia Compartilhada, surgida naturalmente nos Estados Unidos, se tornaram modelos de novos negócios e popularizaram esta tendência por apresentar produtos e serviços mais baratos e que valorizam experiências que simplificam o sistema de consumo. Uma vertente que parece ter cada vez mais aderência de uma parcela mais jovem da população, mas também tem se popularizado e atingido uma faixa mais ampla de consumidores. “Colaborar sempre foi sinônimo de agregar esforços e inteligência em torno de um ideal. As pessoas sempre fizeram isso. No entanto, hoje vemos este conceito e prática tomarem tamanho exponencial por conta das novas tecnologias que facilitaram a conexão entre as pessoas e seus respectivos ideais”, reforça o publicitário Leandro Ogalha, sócio e diretor da agência Tboom.
Analisando bem, este é um formato moderno de escambo que tem até sua versão televisiva no History Channel com o programa “A Troca Perfeita”, em que dois expert nas trocas conseguem praticamente qualquer produto apenas realizando permutas. E, com isso, vemos que o que conhecíamos como prática de negócio está apenas avançando para um quadro maior, que caminha para a expansão da inovação. Caminho este que precisa ser analisado de forma detalhada, pois deverá ser um sem volta. “É preciso ficar claro, de antemão, que a colaboração não é uma modinha, ou a resultante de seres humanos melhores. Os humanos continuam sendo egoístas, invejosos, amorosos, loucos etc, como que sempre foram. O que mudou foi a forma como o mundo evolui: de linear, para exponencial. De um mundo complicado, para um mundo complexo. E a forma como se resolve problemas num mundo complexo é através da colaboração e do compartilhamento de informações”, destaca a publicitária Beia Carvalho, consultora do CEOlab e palestrante futurista da 5 Years from Now.

De acordo com pesquisa da REDS, a economia colaborativa é apontada por muitos especialistas como a principal tendência econômica do século 21, quando analisada a relação dos brasileiros com esse segmento e o impacto da crise econômica no seu crescimento. E isso reforça o ponto de vista da especialista em futurismo e traz um novo ponto de vista sobre a lógica das iniciativas colaborativas e o que é relevante nos dias de hoje. Algo que a torna de fundamental importância para a sociedade. “Um ponto forte que alavanca esse movimento é a percepção de benéficos ligados ao consumo consciente, incluindo redução de poluentes e resíduos no meio-ambiente. Além disso, a própria busca por economia e equilíbrio financeiro faz parte de uma proposta de vida sustentável. Entre os conhecedores da economia colaborativa, 6 em cada 10 pessoas possuem perfil de consumo mais consciente e relacionado a causas sociais. Ademais, 80% deles acreditam que esta prática traz benefícios à população”, enfatiza Karina Milaré da REDS.
A nova visão que as pessoas têm sobre o que é fundamental para a sociedade moderna mostra, contudo, que temos muito chão pela frente, tomando-se como base esta pesquisa “Economia Colaborativa – Mudança de Cultura ou Efeito da Crise?”, realizada pela empresa da holding HSR Specialist Researchers. Os dados apontam que apenas 52% dos brasileiros estão familiarizados com esta vertente e, somente, 13% já utilizaram algum produto ou serviço deste movimento, que conecta pessoas com interesses e necessidades comuns para o compartilhamento de serviços e objetos. Entre os que dizem conhecer, apenas 60% realmente sabem explicar no que consiste a prática, o que não significa que esta vertente não apresente grande potencial de crescimento. “Para o avanço pleno desta vertente, será preciso lidar com pontos que, atualmente, possuem percepção ruim como falta de segurança e regulamentação dos serviços, impacto negativo nos negócios das empresas e para profissionais, além da pouca divulgação dos serviços. E isso significa tanto pelo aumento de adesão entre os que ainda não a utilizaram quanto pela lealdade daqueles que já experimentaram esta nova forma de consumo”, ressalta Milaré.
* Parte de Matéria de Capa produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Setembro/ 2016, número 196