Integração e colaboração facilita processos com públicos

bernardoebianca“Nossa grande missão é salvar ou proteger, quem de nós precisar, nós vamos ajudar” era o mote principal da canção simbólica do emocionante desenho animado “Bernardo e Bianca”, criado pela Disney em 1977. A animação, que encantou pela sua mensagem de perseverança e pelo espírito de encorajamento, traz a ideia de que unidos podemos conquistar grandes feitos. E analisando-se a criação de algumas inovações modernas, observamos que muitas delas se pautam nessa perspectiva da colaboração. Esse denominador comum se encontra na história da evolução de alguns empreendimentos de venda (como escambos virtuais) e na conquista até de boa saúde ou de melhoria da qualidade de vida, vide exemplos como “Um teto para chamar de meu”, o carioca “Voz da Comunidade”, ou o pernambucano Dieta da Rede Social. Os projetos iniciados com a perspectiva de ajudar a si e conjuntamente a outros mostram que a colaboração aperfeiçoa um novo modelo de negócio, pautado na humanidade, ou o que o web ativista Gil Giardelli chama de Humanidade 5.0. Composta pela democracia das redes sociais, representa um mix de todos ciclos vivenciados até o momento (agrícola, industrial, tecnológico e cyber-espiritual), que estão unidos com um foco: a coletividade.Esse movimento da atualidade conectada interfere diretamente não só na forma como interagimos, escolhemos e consumimos. Antes de tudo, mexe completamente com a forma como as empresas e as marcas se comunicam entre si, se expressam e comunicam com seus targets e stakeholders. “Essa colaboração faz com que os profissionais de marketing não tenham mais controle total sobre suas marcas, uma vez que estão competindo com o poder coletivo dos consumidores que também são comunicadores. Isso faz com que as empresas tenham que gastar mais com mão-de-obra especializada e softwares de automação para gerir e capturar tanta informação que é gerada nas redes. Isso faz com que elas tenham sempre que estar antenadas e terem respostas rápidas e satisfatórias. Além disso, contribui para a produção de produtos e serviços de maior qualidade”, diz Thailise Monteiro, consultora de marketing do Colégio e Curso SEI (RJ).

Esse cenário partiu da necessidade de se trabalhar de forma mais colaborativa e de se criar em conjunto para gerar novas ideias, um modelo que se tornou cada vez mais presente nos dias de hoje, especialmente em virtude das tecnologias. E mais fundamentalmente pela mudança de comportamento e de visão de negócios, gestão e empreendedorismo, proporcionando assim novas demandas, captação de investimentos (que nem sempre são monetários) e desafios. A otimização dos processos, aproximação com os públicos e consumidores melhora relacionamentos com os colaboradores, contribui para a geração de novos e originais projetos e empreendimentos. “Acredito que a principal transformação é o empoderamento dos indivíduos em processos antes dominados por grandes corporações”, destaca Fábio Silva, sócio-fundador da StartMeUp (SP), plataforma colaborativa de investimento denominado equity crowdfunding, que conhece de perto a força da integração para concretização de ideias, de uma ação.

Pedro Renan do We Do Logos
Pedro Renan do We Do Logos

A melhor comunicação entre o consumidor com produções customizadas (e até mesmo alternativas) traz uma nova perspectiva para o cliente, que passando a dominar cada vez mais o processo torna a relação, atendimento, prestação de serviço e outros requisitos não só essenciais como um diferencial competitivo. “As pessoas são muito mal atendidas e se acostumaram com isso. Então, todas as inovações como We do Logos, Uber, Spotify etc passam a oferecer um serviço de qualidade e por um valor mais acessível. Isso muda o mercado, muda as pessoas e muda o mundo. Pela experiência da We do Logos, vivenciamos há mais de 5 anos o oferecimento de solução voltada para o empreendedor e que tem um custo acessível e serviço de qualidade”, comenta Pedro Renan, CMO do We Do Logos.

Por isso, organizações, marcas e comunidades estão se mobilizando conforme as plataformas colaborativas pensadas tanto para melhorar o dia a dia e a vida dos indivíduos (pessoal, profissional, familiar), no âmbito on e off, como para transformar a logística e gerenciamento dos trabalhos, agora mais eficientes, produtivos e econômicos. Essas “Redes Colaborativas” ajudam as empresas a obterem novos tipos de informações e contatos entre si e com aqueles com quem desejam se engajar. “Aproximação com o público (seja ele interno ou externo) e a humanização das marcas é um grande benefício de uma nova forma de pensar os negócios tradicionais. E essa mudança tem atingido também outras áreas fora do digital: hoje é possível oferecer ao mercado um produto antes mesmo que ele exista, solicitando por meio de crowdfunding que os próprios interessados financiem o projeto e ‘comprem’ aquele produto ainda em sua fase conceitual”, enfatiza Gianfranco Zuculoto, sócio e diretor de operações da agência Fullbar Digital.

Para o publicitário, que criou a agência que busca unir criatividade à tecnologia em projetos de clientes como Vigor e Carrefour, há diversos exemplos espantosos de como o compartilhamento de ideias e de esforços trazem boas resultados. Um desses, de acordo com o especialista, é o “crowdfung espontâneo” organizado pelos fãs da banda Foo Fighters nas redes sociais no Brasil. “O princípio era simples: para que a banda viesse ao Brasil e o ingresso do show custasse R$ 30, era necessário que pelo menos 500 mil pessoas assinasse o interesse no evento. Claro que esse esforço todo não foi necessário para trazer a banda ao Brasil, mas mostrou aos produtores musicais que existia um público enorme interessado num show da banda por aqui. Pesquisa de graça, fornecida pelos próprios consumidores”, lembra Zuculoto.

Gianfranco Zuculoto da Fullbar Digital
Gianfranco Zuculoto da Fullbar Digital

Integração sem volta – No Era da Conexão, pautada por novos dispositivos e pelas multifacetadas formas de comunicação, a maneira de interação das marcas com o público é conduzida pelos que são chamados de “momentos Inspiração & Conexão”, segundo estudo Content Moments, produzido pela AOL, que analisou mais de 55 mil momentos de consumo de conteúdo online. Com destaque importante ao jovem consumidor, focado em especial na Diversão, observou-se que esses Millennials se caracterizam com preferências diferenciadas. Como multi devices, são significativamente mais propensos a compartilharem o que encontram online e 34% são mais propensos a olhar anúncios. O que enfatiza que essa transformação que encontramos atualmente, vinculadas a mídia integradora, que é a internet, instaura cada vez mais processos de marketing colaborativo, um desafio ainda. “A grande realidade é que a grande maioria das empresas ainda estão tentando compreender essas mudanças e absorver esta cultura para a sua gestão e comunicação. Já as empresas que conseguem implantar essas ações criando canais de diálogo e colaboração, posicionando as pessoas de forma central na estratégia, alcança patamares de evolução nunca percebidos antes através das melhorias contínuas de seus processos, produtos e serviços, mas principalmente, o engajamento das pessoas em torno da marca. Na era da informação, conseguir o tempo das pessoas para poder se comunicar, colaborar e desenvolver algo é o maior de todos os desafios, mas a maior das conquistas desta era”, ressalta Leandro Ogalha, sócio e diretor da agência Tboom.

Com isso, temos que a colaboração abre a oportunidade para o público participar da concepção de produtos e contribui para que as empresas invistam de forma mais assertiva e reduzam ainda custos com equipe, por exemplo. E isso dá uma validação aos clientes que se sente cada vez mais parte do negócio, com o seu poder definitivo de decidir e impor seu desejo. Uma transformação que ainda não sabermos até onde irá, mas que está agradando os consumidores. “Estão promovendo a geração de valor (benefícios) de toda a capacidade produtiva (bens, serviços e conhecimentos) que temos disponível. E isso ainda indica novas capacidades que devemos desenvolver para melhor atender os desejos e necessidades das pessoas e organizações. Aumenta também o número de beneficiários (clientes, usuários, etc.) quando reduzimos as barreiras de utilização como preço inicial de compra e somente pagamento por uso. A evolução dos recursos das plataformas e uma crescente adição de pessoas conectadas facilita a coleta de informações de novas necessidades ou descoberta de novos produtos ou modelos de negócio”, diz Allan Pires, CEO da multinacional dinamarquesa Targit, especializada em Business Intelligence.

Desta forma, a transformação que as plataformas colaborativas estão promovendo no mercado de comunicação é visível a olhos nus, para o executivo que também é CEO da consultoria PA Latinoamericana. A possibilidade de mineração de dados, que possibilitam minimizar possíveis erros no processo de produção de produtos e na execução de serviços, proporciona um novo poder que as empresas precisam aprender a conquistar, uma vez que a dominação das redes é pouco provável e, como não dizer, impossível em diversas instâncias. “No que diz respeito ao mercado de comunicação, quando você vê que grande parte do conteúdo dos jornais da mais importante rede de TV do país e do mundo foi captada, produzida e distribuída por um cidadão comum, munido de um smartphone, a revolução está dada. Hoje, se por algum motivo todos os cidadãos do mundo parassem de colaborar com um único meio de comunicação, o rádio, por exemplo, seria o caos. Os cidadãos informam trânsito, velocidade do metrô (antes e com maior acuidade que a própria empresa), manifestações e sua consequência no trânsito, roubos, assassinatos, estupros, buracos, salas de aula sem professores, desmentindo pela primeira vez na história da sociedade, a voz do poder público ou de empresas privadas pouco transparentes. A loucura é que este é um movimento em rede, sem líderes. Por que? Porque podemos”, diz a publicitária Beia Carvalho, consultora do CEOlab.

Beia Carvalho do CEOlab
Beia Carvalho do CEOlab

Para a especialista em futurista pela 5 Years from Now, a comunicação transformada pela colaboração traz poder, audiência, influência e até mesmo a crença de que se pode mudar, inovar e interferir diretamente no dia a dia da sociedade e das cidades. “Um exemplo muito real envolve quem ouve rádio de notícias diariamente. Dá para imaginar os efeitos que uma rede organizada – interna e/ou externa – pode ter sobre as corporações. O mundo hierárquico afasta os pensamentos dissidentes ao departamentalizar seus profissionais. O mundo colaborativo une pessoas pelo objetivo e não por segmentações de idade, senioridade, profissão ou cargos. A inovação não acontece quando todos estão pensando igual. A inovação não acontece porque o chefe me mandou inovar. Os ambientes colaborativos ao evidenciar e acolher as diferenças provoca e proporciona novas ideias, novas visões, um olhar fresco sobre o dia-a-dia”, completa Beia. E o retorno disso é o comprometimento de coração em um processo no qual se acredita ser maior do que simplesmente a busca por resultados positivos. Processos são agilizados, custos são reduzidos, a criatividade é mais eficiente e rápida e o resultado final, no que diz respeito à criação de novos projetos e negócios, também ganha em qualidade e crescimento aqueles adeptos a esta uma tendência que só tende a crescer cada vez mais. Trabalhar colaborativamente gera assim novas ideias, modelos e sentimento de pertencimento.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Novembro/ 2016, número 197

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